Staniando – Entre o ontem e o agora

há 2 hora(s) - Staniando


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Por Profa. Dra. Stânia Nágila Vasconcelos Carneiro 

Não sei se era madrugada ou apenas um pedaço da noite em que o silêncio parece imperar. Acordei — ou talvez nem tivesse dormido de verdade. A insônia veio mansa, mas insistente, e com ela, uma saudade que não pediu licença. Saudade de minha mãe.

      Fechei os olhos e, num instante, o tempo desapareceu. É engraçado como não há fronteira entre o que foi e o que é. Basta um pensamento distraído e pronto — estou lá de novo, na cozinha de casa, o cantarolar dos cânticos, o cheiro de café se misturando com o de talco de bebê e rosas.

     Senti, como se fosse agora, a mão dela sobre a minha: branquinha, macia, de dedos longos e um pouco tortos, sempre quentinhos. E pareceu tão real que me peguei esperando ouvir sua voz, doce e firme, dizendo: “Vá dormir, minha filha, você pensa demais.” E eu, mesmo agora, sorri sozinha no escuro, porque sim — continuo pensando demais.

     O tempo é mesmo um disfarce malfeito. Ele finge que passou, mas basta uma lembrança e tudo volta a pulsar — o toque, o cheiro, o som da risada. O passado não foi embora; ele apenas se mistura ao presente, como aquelas tardes em que o sol e a chuva dividem o mesmo céu.

     Fiquei ali, entre o ontem e o agora, com o coração apertado e leve ao mesmo tempo. E percebi que talvez amar seja isso: não deixar que o tempo imponha limites, permitir-se reviver, sentir, voltar — sempre que a saudade quiser.

     Acho que, se ela pudesse me ver assim, acordada no meio da noite, ainda diria o mesmo: “Vá dormir, minha filha.” Mas eu responderia baixinho: “Já vou, mamãe… só mais um pouquinho aqui com você.”

     Cheguei à conclusão de que o tempo não passa — somos nós que caminhamos por ele, colhendo memórias, deixando pedaços e guardando outros. Talvez o tempo não leve nada, apenas nos ensine a olhar de novo, com mais ternura, para tudo o que um dia vivemos.