Você já parou para olhar o céu?
Profa. Stânia Nágila Vasconcelos Carneiro
Naquela manhã ensolarada, senti-me inquieta. Coloquei minha roupa de banho e mergulhei, sentindo o frescor da água enquanto olhava para cima. Logo avistei um pássaro cruzando o céu, baixinho, como se me cumprimentasse de leve. Meu olhar, então, se fixou na imensidão azul, e antes que eu me desse conta, já estava boiando, flutuando na água, absorvendo aquela vastidão que me envolvia por todos os lados, oferecendo-me uma pausa suave em meio à pressa dos pensamentos. Sentia como se o tempo parasse, e ali, entre o céu e a água, encontrava uma paz inesperada, como se a leveza do céu me envolvesse e me libertasse das preocupações do dia a dia. O suave balançar da água refletia os movimentos das nuvens, e eu me deixei levar por aquela harmonia.
As nuvens passavam bem devagar, formando camadas quase transparentes. Alguns véus discretos, permitindo que eu visse outras nuvens, mais densas, desfilando ao fundo, umas sobre as outras, numa dança delicada e sem pressa. Essas formas sem forma, desenhadas no céu, se reconfiguravam a cada instante, desdobrando-se em silhuetas e desvios que inspiravam a minha imaginação. Às vezes, o céu parecia se esvaziar, limpinho, e em outros momentos, as nuvens tomavam conta, como se quisessem dominar aquele espaço todo, como se o céu fosse uma tela a ser preenchida pelo trabalho do vento e do tempo. Cada nuvem que passava parecia contar uma história breve, efêmera, e, mesmo assim, marcante — uma história que logo desaparecia, mas que deixava no ar a sensação de leveza e constante renovação.
Gosto de observá-las, imaginando figuras, bichos, até mapas celestes que só existem naquele instante tão passageiro. Mas elas seguem, sempre em movimento, sem nunca se deter, como se estivessem apenas de passagem — sempre fluindo, sempre em constante transformação, registrando-me de que nada permanece imóvel, tudo flui, tudo se renova. E me peguei pensando: assim como as nuvens, também somos moldados por ventos invisíveis, que nos levam, nos transformam e, ao mesmo tempo, nos libertam da necessidade de sua permanência. Cada nova forma é uma oportunidade de recomeçar, de abandonar o que já foi e abraçar o que está por vir, sem medo, apenas com a leveza de, quem sabe que, no fim, o movimento é o que mantém tudo vivo.
De vez em quando, outro pássaro passava, alguns enormes, parecendo minúsculos pela altura, enquanto outros pequenininhos passavam tão perto que pareciam imensos. E eles planavam e planavam, como se o céu fosse o lugar onde seus sonhos se sustentam, livres.
E ali, entre o céu, as nuvens e os pássaros, me vejo também suspensa, experimentando o encantamento daquela beleza, daquela dança silenciosa que, mesmo passageira, deixava sua marca em mim, oferecendo-me uma paz inesperada. É como se, por um instante, eu também pudesse flutuar, solta no ar, conectada a algo maior e eterno. Ali, compreendi que, assim como as nuvens e os pássaros, eu era parte desse ciclo contínuo, onde tudo se transforma e se renova, e encontro quietude em apenas ser.
Deixe seu comentário