Fizemos 18 anos!

17h49m 05/04/2022 - Staniando


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Era domingo, estávamos assistindo à missa. Depois da eucaristia, naquele momento de silêncio que a sucede, ainda de cabeça baixa, ouvi uma voz em meu ouvido. Era o sacristão: “Pe. Edilberto quer falar com a senhora depois da missa”.

Tomei um susto, deveria ser algo muito sério. Pe. Edilberto Reis (im memoriam) foi um amigo que a FECLESC me deu. Trabalhamos juntos mesmo antes de ele se ordenar. Terminada a missa, dirigi-me à sacristia. Lembro-me dele ainda tirando o hábito e já, naquela animação contagiante de sempre, me falou: “Dom Adélio vai construir uma faculdade aqui em Quixadá, a Faculdade Católica Rainha do Sertão vai ser a PUC de Quixadá! E eles querem você lá. Cadê teu currículo?”.

 “Meu currículo? Esqueceu de que estamos na igreja, em pleno domingo?!” (Ele era assim, alegre, expansivo e exagerado!). Fiquei aturdida. “Como assim, uma faculdade!?”“Vamos ter Enfermagem, Fisioterapia e outros cursos, vai ser uma revolução, minha amiga.”

Saí dali com a certeza de que uma nova história da educação municipal teria início. Isso se deu há exatamente 19 anos. Hoje, vejo que a Católica mesmo antes de nascer já tinha nome – Faculdade Católica Rainha do Sertão (FCRS). A notícia rapidamente se espalhou na cidade. A “faculdade do bispo” vai ter Enfermagem, Fisioterapia e mais cinco cursos diferentes dos da FECLESC. Foi um burburinho!

De lá para cá, muita coisa aconteceu. Um grupo já estava planejando os cursos e organizando a faculdade para o MEC. À frente deste seleto grupo, estava a Rosa (esqueci o sobrenome), consultora de Fortaleza, juntei-me a ele, era o ano de 2003. Em abril de 2004, as aulas tiveram início, alguns cursos diurnos e Administração e Contábeis noturnos. Eu fazia parte do corpo docente destes últimos cursos.

Éramos estruturalmente pequenos, apenas dois blocos, um para a área administrativa e outro para as coordenações e suas salas de aula. Eu tinha assim dois coordenadores, os pioneiros destes cursos: Prof. Mel. Messias de Sousa, no curso de Administração e Prof. Willian Celso Silvestre, nas Ciências Contábeis; na direção geral, o José Nilson; nos Recursos Humanos, a Mirian Borges; organizando o campus, tínhamos a engenheira Milene; na secretaria dos cursos, a resoluta Naélia Nogueira, que ainda permanece em nosso convívio; como coordenador acadêmico, o Pe. Marcos Chagas, secretariado pela Geysa Américo; na coordenação de extensão e pesquisa, o Prof. Luiz Lacerda (im memoriam). A biblioteca já contava com o DaniloOliveira e o Padre José Maria Loiolajá alegrava nossas salas de aula e corredores com suas histórias. Os inesquecíveis docentes:  Prof.ª Adriana Tomé (Anatomia), Prof.Frederico Monteiro e Prof. Abel Francisco e Silva (Contábeis e Administração), Prof.ª Eucléa Gomes Vale(Enfermagem), Prof.ªElane Coutinho (Estatística), Prof.ªÉrika Galvão (Psicologia), a dupla sertaneja Profs. Rogério Nunes e Roberto Lima (Farmácia), o irreverente coordenador do curso de Farmácia, Rivelilson Mendes de Freitas (im memoriam) e tantos outros.  Ah! Não posso esquecer de registrar que a Maria Juturna da Silva já era nossa secretária acadêmica e o Prof.Rivelino Duarte nosso professor de matemática. Quem viveu lembrará e ainda sentirá o gosto e o cheiro saborosos do café quentinho que a Marlúcia Paulino nos preparava diariamente e ainda ouvirá a voz da Ana Paula Nonato cantando baixinho, enquanto limpava nossas salas.

Os tais blocos ficavam soltos em uma área ainda a ser desbravada. Quando tocava a sirene (sim, nós tínhamos uma campainha que troava alto indicando nossos horários), saíamos das salas de aula sempre em grupo e íamos ao banheiro sempre acompanhadas pois “os donos do pedaço” eram os guaxinins que sempre que nos pegavam desprevenidos nos faziam correr e gritar. Alunos e professores sempre tinham uma história para contar. Era uma história “de demarcação de terra” por cima de outra. Nas quintas-feiras, a rotina docente era quebrada com as “quintas sem lei”, quando alguns colegas se reuniam pós-aulas para recarregarem as energias com conversas regadas a boas risadas. Depois, fomos crescendo, lembro de sempre que voltava das férias tinha algo construído. Ainda hoje é assim, a Católica não para de crescer e de surpreender!

Estas coisas ficaram guardadas na minha memória como se fosse uma tatuagem. Tem até cheiro de saudade. Quase impossível não lembrar. Vem como se fosse uma imagem: a sirene tocando, os grupos saindo, as vozes se misturando, as risadas, as luzes se apagando, o caminho ainda escuro e lá longe o portão e…. o céu cheinho de estrelas grandes e pequenas, piscando e piscando. Hoje, ainda estão por aqui, ou não, mas algumas ainda pestanejam nos lembrando o passado, enquanto outras estão apenas lá como a nos lembrar no futuro.

Parece que foi ontem, mas dezoito anos já se passaram. Fico pensando nestas e em outras muitas passagens quando, hoje, caminho por entre estes corredores enormes da faculdade e lembro (e vejo os) dos muitos colegas e inúmeros alunos que por aqui passaram, que tiveram suas vidas transformadas. Saudades? Sim. Mas a alegria de ter feito e ainda fazer parte da vida, da história da educação da cidade e dos muitos que por aqui passaram e tiveram suas vidas modificadas e sonhos realizados pelos que fizeram e fazem esta instituição é bem maior.

A faculdade mudou. Lá se foram a sirene, os guaxinins, os apagões. Mas o sonho acabou? As imagens que me vêm à mente têm a mesma força e a mesma sedução de outrora. Certamente, sei que a memória é seletiva, e que “ lembrar e esquecer são as duas faces de uma mesma moeda”, mas como não ser refém desse sentimento saudosista, que nunca se dá por satisfeito?

Hoje, 18 anos depois, a FCRS, hoje UniCatólica, ainda me seduz. Parece-me não ter sido apenas um acontecimento midiático, mas algo mais profundo, que quebrou paradigmas, revelando o protagonismo da jovem instituição no sertão central cearense.

A mulher de 42 anos, hoje tem 61 anos e revive, na mesma IES, semelhante entusiasmo e crença na educação do ensino superior. E assim como no primeiro encontro, também procura se renovar. Espero que este caminhar nos leve mais longe ainda.

Quais serão minhas lembranças daqui há 15 anos se os ventos do tempo, como diz o poeta Eduardo Galeano, não apagarem completamente suas pegadas? É claro que espero estar viva para responder a esta pergunta, mas creio que a resposta vai além das centenas de fotografias que NÃO tirei com o celular naquele período. Registrar, através das fotografias, é importante e sempre será, porém ainda prefiro guardar na memória aqueles momentos em que “parece terem sido vividos ontem” para ter histórias a contar sem recorrer a um meio eletrônico. Resta saber se alguém vai querer ouvir, mas esta é outra conversa.