Sou minha própria paisagem

15h42m 10/04/2025 - Staniando


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Por Profa. Dra. Stânia Nágila Vasconcelos Carneiro

Sou quieta como o céu em dia nublado — parece calmo, mas carrega o peso de mil tempestades por dentro. Há quem me olhe e pense que sou paz. Mal sabem que, por dentro, corro. Tão corrida que, às vezes, esqueço onde larguei o fôlego. Corro para alcançar a mim mesma, para entender a confusão dos meus próprios passos.

Sou silêncio e sou barulho. Há dias em que me escondo dentro de mim como quem se esconde num quarto escuro — só para ouvir melhor os gritos da mente. Em outros, minha cabeça é um carnaval de ideias, pensamentos dançando com cores que ninguém vê, mas eu sinto — sinto tudo, o tempo todo.

Sou interior. Prefiro plantas a pessoas. As flores me entendem, os ventos me acolhem, o silêncio me conforta. Sinto-me mais em casa olhando minhas plantas do que no burburinho de qualquer sala cheia. Não preciso ver para acreditar — minha fé é feita de convicção, de sentir antes de saber, de confiar no invisível como quem confia no próprio coração batendo no escuro.

Prefiro pensamentos a palavras. Pensamentos são mais delicados, não exigem tradução. Palavras, às vezes, quebram a mágica, e eu tenho medo de perder o encanto. Escrevo porque falar me cansa — a caneta entende melhor meu silêncio do que qualquer ouvido.

Sou coruja. Minha mente desperta quando tudo silencia, quando a cidade dorme e o mundo se aquieta. É na calma da noite que os pensamentos ganham voz, me tiram o sono, e as ideias florescem. Nessas horas, o papel vira jardim.

Minha mente é barulhenta. Meus pensamentos, coloridos. É um caos bonito, um turbilhão criativo que me tira o sono, mas me dá sentido. Dentro de mim, as palavras e ideias se encontram, abrem portas, mostram caminhos e me levam a sonhar.

“Sou minha própria paisagem”, como disse Fernando Pessoa — e nessa paisagem, às vezes há mar, às vezes tempestade, mas sempre algo que se move, que pulsa, que sonha. Porque ser eu é ser um território em constante transformação. E tudo bem. Eu gosto assim.