Staniando – O amor que fica em cada onda

19h00m 17/03/2025 - Staniando


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Por Profa. Dra. Stânia Nágila Vasconcelos Carneiro

Assistindo a um filme de faroeste, a fala de um índio me fez refletir profundamente. Ele disse que, para seu povo, o amor é uma troca simbólica e intensa: quando amamos, entregamos um pedaço de nossa essência ao outro e, ao mesmo tempo, recebemos o mesmo da pessoa amada. Essa troca vai além do físico, criando uma conexão que transcende o simples relacionamento. Quando alguém se vai, o vazio que sentimos não é apenas pela ausência física, mas pela perda daquele pedaço que deixamos com o outro, e que, de alguma forma, permanece em nós. E, ao mesmo tempo, carregamos conosco o pedaço do outro, uma parte de sua essência que fica conosco, para nos ajudar a preencher o vazio da separação. Essa ideia de que o amor é uma troca de pedaços revela a profundidade desse sentimento, mostrando que, mesmo na separação, continuamos a carregar o outro em nós.

O amor é, sem dúvida, um mistério profundo e, por vezes, doloroso. Seria, de fato, uma troca? Então, não é só sobre estar junto ou compartilhar momentos felizes, é sobre deixar um pedaço de si no outro e carregar um pedacinho dele em nós? Talvez seja por isso que sofremos tanto quando alguém que amamos se vai – uma parte nossa parte juntinho, deixando um vazio difícil de preencher. Mas, ao mesmo tempo, existe algo de bonito nessa troca: nunca estaremos completamente sozinhos, porque sempre levaremos essa lembrança viva dentro de nós.

Fiquei fascinada com a ideia de que, mesmo na ausência, quem amamos continua presente em nós. É como se cada riso compartilhado, cada conversa trocada e cada sonho dividido se transformassem em pequenos fragmentos que permanecessem vivos em nosso coração. Esses pedaços são como um presente silencioso, que nos acompanha em cada passo, em cada escolha, em cada novo caminho que decidimos seguir. E, de certo modo, é reconfortante saber que, enquanto estivermos vivos, também manteremos viva uma parte dessas pessoas em nós.

Talvez essa seja a maior força do amor: ele não conhece fim, ele se espalha em nós e através de nós, atravessando o tempo e nos lembrando de que ninguém que ama parte completamente. Quando alguém parte, seus desejos, sonhos e até pequenas vontades podem encontrar em nós um caminho para se realizarem. Levar adiante o que foi sonhado juntos é uma forma bonita de honrar o que vivemos e de não deixar que a história termine. Afinal, esses pedaços que carregamos não são apenas lembranças – são impulsos silenciosos que nos movem a seguir em frente, mesmo quando o coração sente falta.

Enquanto houve memória e afeto, essas pessoas continuarão vivendo em nós, em cada detalhe do cotidiano, em cada momento vivido.

E é por isso que, sempre que o som do mar me alcança, sinto que minha mãe continua por perto, como se estivesse ali, dividindo comigo a certeza de que o amor nunca se perde. É como se, naquele instante, sua voz firme e suave ainda me alcançasse, lembrando-me de que as coisas mais belas e simples da vida também são as mais sagradas. E assim, cada onda que vai e vem me traz a sensação de que seus ensinamentos, seu carinho e sua presença permanecem vivos em mim, atravessando o tempo e o espaço: “Stânia Nágila, olha que obra divina, maravilhosa. É perfeita. Vamos sentar aqui, minha filha, e apenas apreciar, ouvir, agradecer e fazer nossa oração de contemplação.”