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Quaresma: Treino para a vida verdadeira
Pastoral Universitária

Quaresma: Treino para a vida verdadeira

Por Prof. Dr. Rudy Albino de Assunção

Todos os anos, na Quarta-feira de Cinzas, somos lembrados pela liturgia da Igreja daquilo que, ao que me parece, só aprendemos em 2020: que vamos morrer. O sacerdote, ao impor a cinza sobre nós, diz: Lembra-te que és pó, e ao pó hás de voltar. Mas somos pretensiosos, sobretudo quando jovens. A vida deste mundo – feita de curtidas, filtros, projetos, carreiras (e boletos!) – parece não ter fim. Mas tem; é inexorável. Bastou um vírus rondar as nossas casas como um leão a rugir (cf. 1 Pe 5, 8) para lembrar-nos disso.

Alguns, mais conscientes – ainda que imprecisos – repetem: a nossa única certeza é a morte. Como cristãos, ao contrário, vemos que a nossa convicção está na ressurreição da carne e em novos céus e nova terra. Não seremos lançados no nada, na aniquilação. Cristo matou a morte. Nosso Deus prometeu-nos vida eterna, mas que já está entre nós. Na Eucaristia, nos demais sacramentos, na graça atuante em cada momento de nossa existência, está o “rio de água viva” (Ap 22, 1) que fecunda a nossa caducidade.

Hoje se fala tanto em “treino” para viver bem, para ser fitness – estar em boa forma: (di)lema contemporâneo em tempos de fast food e miojo. A vida virou uma grande Academia. Queremos, acima de tudo, happiness – felicidade. Já a Quaresma é o nosso “exercício espiritual” anual que a Igreja nos oferece para vivermos os incontornáveis flagelos, Calvário, cruz, fome, sede, morte, sepulcro. É o treino da nossa alma e, consequentemente, da carne a ela unida para alcançar não a autossatisfação, a paz com o espelho, mas a alegria que não passa.

O mundo nos ensina dietas, que são, de algum modo, jejum e abstinência sem oração. Convertamo-las, portanto, no jejum verdadeiro que podem ser, somando a ele a nossa caridade, a partilha do que é nosso, sobretudo em excesso e a oração, o colóquio da nossa alma com o Deus que lhe dá o mover e o existir.

A nossa meta última não é um corpo definido, sarado e um abdômen trincado, mas um corpo glorioso. E eis a beleza quaresmal e do tríduo pascal: só Deus nos garante que a Sexta-feira da Paixão será vencida pelo Domingo de Páscoa. Queremos, sim, uma vida saudável.

“Voltemo-nos logo para o bem, sem esperar que a morte chegue e que já não haja tempo” (Responsório, Quarta-feira de Cinzas).

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